Princípios Fundamento e Filosofia
Quando plantamos uma faixa na feira onde apareceu pela primeira vez o Teatro Lambe-lambe (TLL) não sabíamos que estaríamos inscrevendo este teatro, no mundo do teatro de animação, como uma linguagem.
O teatro Lambe-lambe estreou numa feira, em setembro de 1989. Já com o estatuto de Teatro desde sua primeira aparição no evento “Feira do Interior”, realizado em Salvador-Bahia. Estreia como uma casa de espetáculo. Com todos os requisitos de funcionamento de um teatro: palco; cortina de luz dado pelo sol durante o dia; a noite a iluminação se dava com uma lanterna, 2 coxias e podendo ser assistido, por um único espectador de cada vez, através de um visor.
Durante os 10 dias da feira trabalhamos com o teatro lotado e podemos perceber que o público não desistia de esperar a sua vez, de espiar, no que pese filas enormes. Havia dois tipos de público: o povo que tinha um stand na feira (trabalhadores de diversas áreas, jornalistas de todos os jornais da capital e do interior); público flutuante que visitava a feira e ainda tinha o público do show de música. Assim tivemos este privilégio de ter gente de diversos seguimentos da nossa baianidade que apreciaram a encenação, confirmando que aquele trabalho estava ali para ficar. A primeira pessoa que assistiu já deixou claro que tínhamos um Teatro e um espetáculo, esta foi a primeira confirmação.
A estreia foi com dois espetáculos: A dança do parto e o Império dos Sentidos. O primeiro guardava o segredo do parto, o segundo o segredo de como se realizava o amor – o segredo que guardava os dois espetáculos foi o motivo da criação desta forma de teatro. O que era guardado ali era o motivo que atraia as pessoas e a formação de grandes filas. A duração dos espetáculos variava entre 2 a 3 minutos. Este foi se confirmando como o tempo ideal ali mesmo na feira e nas apresentações posteriores que trabalhamos com o TLL.
Após trinta anos continua evidente que: o segredo que deve guardar o espetáculo TLL e o seu tempo de duração (de 2 a 3 minutos), são seus aspectos intrínsecos, sua peculiaridade. Para além desse tempo, é muito cansativo para quem faz e para quem fica na fila, sendo este também o maior desafio desta forma teatral.
Numa feira como aquela onde aconteceu a estreia do TLL com um público imenso, poderia ter muitos teatros apresentando em um só lugar. Quanto mais teatros tivessem ali, melhor seria para todos. A palavra certa para esta ideia é: compartilhamento.
Denomina-se de princípios estas premissas básicas inicias deste teatro e que se consolidaram nestes trinta anos percorridos: o segredo, o tempo de duração entre 1 a 3 minutos e o seu compartilhamento. Quanto mais teatro numa feira, na rua, ou em qualquer evento melhor para quem faz e para que assiste.
Denominamos de Fundamentos do TLL, duas histórias que constituem os seus pilares: a história dos fotógrafos de rua que se popularizaram registrando durante uma época, eventos de rua e as famosas fotos 3x4, que tiveram sua importância em todo o mundo antes do advindo da era digital; e a história do teatro de bonecos que é uma poderosa forma de comunicação que atravessou todas as épocas da humanidade e resiste até hoje numa diversidade de formas.
É possível que o entrelaçamento destas duas histórias explique o enigma do sucesso desta forma teatral que hoje já é considerada uma linguagem, em decorrência da enorme rede global que se formou, com diversidade de espetáculos. A cada novo teatro surgido, um novo conhecimento é registrado. E assim vai sendo tecida uma linguagem com a autonomia de muitas mãos.
Como explicar a Filosofia desta forma teatral Lambe Lambe
Partindo do princípio que a Filosofia é a busca do conhecimento e que esta linguagem é nova, não existe um tratado que a explique. A atitude inicial de surgimento do novo teatro, que pode se chamar de Filosofia do TLL, é o deslumbramento e espanto diante deste pequeno teatro que, como diz, Denise di Santos “Se agiganta na hora da função”, é também a atitude inicial da pessoa que vai ser um novo lambe - lambeiro. O passo seguinte que vai acontecer e vai nortear o caminho do novo teatro é o que se pode chamar de atitude filosófica que, neste caso, seria a busca de uma atitude de conhecimento para encontrar a verdade de um movimento que já é global, não para uma crítica no seu sentindo estrito, mas para buscar a sua poética, que é a sua essência e seu desafio. Entregue ao mundo, existe nesta arte uma autonomia no seu fazer. Mas, como qualquer arte, há que se ter algo pra dizer, e isto é fundamental. Tem que ser uma questão de vida ou morte, já dizia um antigo poeta.
Após 30 anos da sua primeira aparição são muitos teatros Lambe Lambe circulando pelo mundo, a perder de vista. Contudo existe uma rede que se conhece através das redes sociais no Brasil, em amostras, festivais etc. Pode-se afirmar quantos somos, mas não há que se precisar em termos de números, porque há um dinamismo no surgimento de novos teatros.
Assim tem sido o “vir a ser” do TLL, cada novo teatro é algo novo que nasce, se manifestando com sua estética e dramaturgia construída com o capital cultural do seu autor.
E hoje circula um antigo manifesto do teatro Lambe-lambe por esta rede que já foi traduzido em espanhol e que sofreu modificações pela própria rede que o atualiza com novas experiências do tempo político que se vive hoje no mundo e, especialmente, no Brasil.
Ismine Lima e Denise di Santos.
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